Antes, uma contextualização. Passei a noite do dia dos namorados escrevendo. Não foi, entretanto, uma noite solitária. Passei a noite de doze de junho escrevendo na companhia de talentosos colegas na Esc. Escola de Escrita.
Eu já fui mais ligada nessas datas comemorativas. Hoje em dia ando tão ocupada e tão preocupada com outros assuntos que mal percebi que a última quinta era um dia especial para alguns. Pra mim, as noites de quinta já são sempre especiais, pois são noites de curso na Esc.
A proposta do encontro era a seguinte: foram dois exercícios de escrita, e para cada exercício, cada um dos escritores sorteou um cenário. Os meus foram academia e supermercado. O primeiro texto deveria retratar um apaixonamento. O segundo, um término.
Como resultado, apresento os dois breves contos que produzi.
Entre halteres e suspiros
Credo, eu tô me sentindo tão fraca hoje. Eu nem queria ter vindo, mas é necessário, né? Minha terapeuta mandou e eu venho. Treinar pra não pirar. Melhor do que ficar rolando feed de Instagram no Dia dos Namorados, com certeza. Tá, vou fazer logo o supino para ficar livre do mais pesado. Seria bom ter um personal, viu? Para montar tudo pra mim...
— Moço, você me dá licença? Preciso pegar esses presos e...
Foto de Jonathan Borba no Pexels
Minhas palavras morrem na minha garganta, que seca instantaneamente. Que homem bonito, que homem formoso!
— Quer ajuda?
Que voz sedutora, que voz aveludada!
— Não precisa, obrigada, eu consigo — é o que digo um segundo antes de derrubar a anilha no pé dele.
— Moço, me desculpa! Céus, me desculpa! — eu ajoelho, levanto a anilha e começo a abrir o tênis dele, meu Deus, que que eu tô fazendo, eu nem sei mais!
— Calma, calma, tá tudo bem — ele diz com aquela voz hipnotizante, se ajoelha e segura minhas mãos.
— Não tá doendo?
— Tá — ele responde sem tirar o sorriso do rosto — mas vai passar.
— Como posso me redimir? — pergunto, as bochechas vermelhas por vergonha e por algo mais.
Ele arruma uma mecha do meu cabelo que caiu do rabo de cavalo, os olhos nos meus olhos e depois nos meus lábios.
— Toma um whey comigo depois do treino?
Foi no mercado que percebi
As mimosas estão bonitas. É época. Vou pegar algumas a mais, porque Helena gosta. Vou pegar framboesas também. São caras, mas ela ama. Dividimos as tarefas pois temos pouco tempo hoje. Vamos terminar o mercado, deixar as compras em casa e correr para a terapia de casal. Fiquei com o hortifruti, o açougue e os iogurtes. Comida de verdade. Ela ficou de pegar os industrializados que a gente gosta: chocolate, bolachas, pão de forma, além das coisas de banheiro.
Foto de Pixabay
Começo a passar meu carrinho quando Helena me encontra no caixa. Ela vai colocando os chocolates na esteira. Só chocolate branco. Eu não gosto de chocolate branco.
— Não tinha Milka, amor? — pergunto, imaginando que ela pode ter esquecido.
— Enjoei.
Em seguida, passa um kit de xampu e condicionador para cabelos lisos. Meu cabelo é cacheado. Por último, deposita no caixa duas embalagens de OB. Eu não gosto de usar OB, prefiro absorvente externo.
A caixa anuncia o valor final das compras. Caro, como sempre. Dividimos em dois cartões. Essa será a última coisa que dividiremos.
— Acabou — digo a ela, estendendo a caixinha de framboesas.
E aí, qual vocês conto preferem? Apesar de ter me divertido escrevendo o primeiro, gostei mais do resultado do segundo. Eu não sou uma pessoa romântica, acho histórias melancólicas mais críveis.
Li e gostei
Pensei em aproveitar a temática amorosa e recomendar um livro, mas como eu disse, não sou romântica e tenho uma tendência a só ler narrativas tristes.
O que mais se aproxima de uma história de namorados entre as minhas leituras recentes é A cabeça do santo, da Socorro Acioli. Não é essa a sua essência, que fique claro, mas tem um “profeta" casamenteiro, tem Santo Antônio, acho que tá valendo, né?
Você mandou muito bem nos dois, Vanessa. Mas gosto mais do segundo. Tem uma pegada de "a história está só começando..." Adorei!
O segundo é mais complexo, pode ser engraçado num dia e triste no outro